ATA DA QÜINQUAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 26-10-2000.

 


Aos vinte e seis dias do mês de outubro do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e oito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Paulo de Argollo Mendes, nos termos do Projeto de Resolução nº 038/00 (Processo nº 1813/00), de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt. Compuseram a MESA: o Vereador Lauro Hagemann, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Ricardo Gothe, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Júlio Rossi Boehl, representante da Secretaria Municipal de Saúde; o Senhor Henrique Goffemann, representante do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul – CREMERS; o Senhor Hilberto Corrêa de Almeida, Presidente da Associação Médica do Estado do Rio Grande do Sul – AMRIGS; o Senhor Pedro Guz, Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; o Senhor Néio Lúcio Fraga Pereira, representante da Câmara Municipal de Gravataí; o Senhor Gerson Peteffi, representante da Câmara Municipal de Novo Hamburgo; o Deputado Federal Henrique Fontana; o Senhor Telmo Kruse, representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Paulo de Argollo Mendes, Homenageado; o Vereador Antonio Hohlfeldt, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PPS, PTB, PDT, PMDB, PSB e PFL, discorreu sobre aspectos relativos à vida pessoal e profissional do Senhor Paulo de Argollo Mendes, reportando-se à aprovação unânime do Projeto de Resolução que concedeu o Título Honorífico de Cidadão Emérito à Sua Senhoria e justificando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a presente homenagem. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, externou sua satisfação em poder participar da presente solenidade, destacando o caráter obstinado e competente do Senhor Paulo de Argollo Mendes no desempenho de suas atividades como médico e como Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. Também, parabenizou o Vereador Antonio Hohlfeldt pela proposição da homenagem hoje realizada. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças, como extensão da Mesa: da Senhora Maria Rita de Assis Brasil, Vice-Presidenta do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul; do Senhor Edmundo Lima Zagoury, Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Fêmina; do Senhor Paulo Roberto Giesta, Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Conceição; do Senhor João Júlio Hogetop, Vice-Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Cristo Redentor; do Senhor Bruno Carlo Palombini, Presidente da Associação dos Médicos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia; do Senhor Francisco Antônio Paz, Diretor-Superintendente do Grupo Hospitalar Conceição; do Senhor Bruno Costa; do Senhor Roberto Benevetti; do Senhor Renato de Boer, Delegado de Pelotas; do Senhor Osvaldo Carlos dos Santos, representante da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo - UNICRED; do Senhor Sergio Arnoud, Presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul; das Senhoras Elvira de Argollo Mendes, Lenita de Argollo Mendes e Ivone Richter, respectivamente mãe e irmãs do Homenageado; do Senhor Alexandre Argollo, tio do Homenageado; de autoridades, amigos e familiares do Homenageado. A seguir, foi dada continuidade aos pronunciamentos dos Senhores Vereadores. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, salientou a justeza da concessão do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Paulo de Argollo Mendes, manifestando seu reconhecimento ao trabalho do Homenageado em prol da humanização das relações entre instituições médicas e seus pacientes e exaltando a importância do desenvolvimento tecnológico e da relação médico-paciente para o exercício da medicina. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelo Senhor Chaphik Saadi; pelo Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; pelo Senhor Cláudio Barros Silva, Procurador-Geral de Justiça; pelo Senhor José Erivalder Guimarães de Oliveira, Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo; pelo Senhor José Luiz Gomes do Amaral, Presidente da Associação Paulista de Medicina; pelo Senhor Edevard J. de Araújo, Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina – CREMESC; pelo Senhor Carlos Francisco Praetorius, Presidente da Associação dos Médicos Contratados do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Juarez Pinheiro, em nome da Bancada do PT, prestou sua homenagem ao Senhor Paulo de Argollo Mendes, traçando um paralelo entre a responsabilidade de um médico no trato com seus pacientes e a deste Legislativo na concessão de Títulos Honoríficos. Também, exaltou a importância do Homenageado como Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul e a sua luta pela valorização do trabalho desenvolvido por essa entidade. A seguir, o Vereador Lauro Hagemann, na presidência dos trabalhos, convidou o Senhor Ricardo Gothe para, juntamente com Sua Excelência, procederem à entrega da Medalha e do Diploma referentes ao Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Paulo de Argollo Mendes, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quarenta e três minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Lauro Hagemann e secretariados pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): A presente Sessão Solene, nos termos do PR nº 38/00, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt, é destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Dr. Paulo de Argollo Mendes.

Convidamos para compor a Mesa o homenageado, Sr. Paulo de Argollo Mendes; o Sr. Ricardo Gothe, representante do Sr. Prefeito Municipal; o Dr. Júlio Rossi Boehl, representante da Secretaria Municipal de Saúde; o Dr. Henrique Goffemann, representante do Conselho Regional de Medicina - CREMERS; o Dr. Hilberto C. de Almeida, Presidente da Associação Médica do Estado do RS; o Prof. Pedro Guz, Diretor da Faculdade de Medicina da UFRGS; o Dr. Néio Lúcio F. Pereira, representante da Câmara Municipal de Gravataí; o Dr. Gerson Peteffi, representante da Câmara Municipal de Novo Hamburgo; o Deputado Federal Henrique Fontana; o Dr. Telmo Kruse, representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

A Câmara Municipal de Porto Alegre sente-se sumamente honrada em realizar esta Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Dr. Paulo de Argollo Mendes.

Convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

Concedo a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt que falará como proponente e pelas Bancadas do PPS, PTB, PDT, PMDB, PSB e PFL.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente em exercício neste momento, Ver. Lauro Hagemann, que muito me honra presidir esta Sessão, exatamente porque é um dos companheiros de luta sindical, de trabalho conjunto nesta Casa, e que está-se despedindo ao mesmo tempo deste Legislativo, por decisão própria de deixar a lide parlamentar ao menos neste momento. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Gostaria de cumprimentar, muito especialmente, a Dona Elvira, mãe do nosso homenageado, as suas irmãs Lenita e Ivone e o Dr. Alexandre de Argollo, tio do nosso homenageado.

Prezado Paulo de Argollo Mendes, que recebe hoje esse Título Honorífico de Cidadão Emérito. Sendo natural de Porto Alegre não pode receber o título de Cidadão de Porto Alegre, porque já o é. E a Casa, sabiamente, há muitos anos - talvez mais que duas décadas - fez uma opção para aqueles, naturais da Cidade; criou-se então o título de Cidadão Emérito, que é uma maneira de destacar essas pessoas que, nascendo e vivendo em Porto Alegre, se dedicando a Porto Alegre, portanto, naturais daqui, não poderiam receber uma homenagem específica enquanto cidadãos específicos da Cidade. Paulo de Argollo Mendes, natural de Porto Alegre, teve, por nós apresentada, a proposta dessa homenagem a partir do dia 07 de junho do corrente. A Casa, solicitamente, tomou a decisão a respeito da possibilidade da homenagem, sendo aprovado o Projeto a partir do dia 14 de setembro. Projeto, este, que andou aqui na Casa muito celeremente.

Eu poderia aqui, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, amigos, conhecidos profissionais na área da Medicina, dizer que a homenagem cabe ao médico, ao profissional, ao líder sindical, mas cabe, muito particularmente, se me permite Ver. Cláudio Sebenelo, meu companheiro de Bancada do PSDB, cabe também ao meu amigo pessoal - não chega a ser de infância, mas quase; é de adolescência ainda dos tempos do Julinho -, e para amigo não temos formalidades, por isso me permiti não ter nenhum discurso formal, escrito ou aqueles famosos improvisos de bolso que puxamos de última hora, mas quero, realmente, lembrar coisas e falar de coisas sobre Paulo de Argollo que me motivaram, em nome da Cidade, em fazer e propor essa homenagem, que teve a aprovação desta Casa

Em primeiro lugar, vou começar lembrando do Paulo nos tempos do Julinho, um adolescente, na época como eu, nos difíceis anos 60. Talvez não estivéssemos tão ligados em política partidária, política estudantil; estávamos ligados num outro tipo de atividade que certamente nos ajudou muito na nossa formação e nos nossos primeiros passos de vida social, que era a vida cultural. Nós dois fomos fundadores do Coral do Julinho, regido, na época, pelo Prof. Aloisius Staub - já homenageado por esta Casa – tendo recebido, aqui, o Prêmio Lupicínio Rodrigues, que é um prêmio destinado aos que se destacam no campo da música.

Naquela época, anos 60, não vamos dizer que éramos muito bem comportados; também não éramos nenhum moleque muito especial, mas, com toda a certeza, nós tínhamos toda a nossa força, toda a nossa disponibilidade dedicada ao Coral do Julinho, a nossa turma do coral, que, nos finais do semana, saía pela Cidade. Ninguém dispunha de carro; aquela não era uma época em que guri tinha carro emprestado pelo pai; certamente nem o pai do Paulo nem o meu pai disponibilizariam o carro para nós. Nós saíamos de ônibus mesmo. Muitas vezes, lembro, nós pegávamos um ônibus para Itapuã e passávamos o dia na beira da Lagoa. Saíamos pela manhã e voltávamos à noite, um trabalho desgraçado, mas nós achávamos bom; era o supra-sumo da aventura. Assim, gradualmente, nós constituímos essa relação de amizade: Paulo de Argollo e eu.

Provavelmente o Paulo tinha uma leve idéia de ser médico, e eu tinha uma leve idéia de ser jornalista e de me dedicar à Literatura. Certamente nenhum de nós tinha idéia de que ele viria a ser um líder sindical destacado, eu diria, no Brasil todo, porque, afinal, uma Federação tem essa amplitude, e nem eu tinha a idéia de que algum dia viria a me tornar Vereador da Cidade de Porto Alegre.

Eu quero lembrar também o Paulo profissional, o Paulo que, um pouco por acaso, encontrei na emergência do Hospital N. Sra. da Conceição, em algum momento em que tive necessidade. Lá estava Paulo de Argollo Mendes recebendo as pessoas com uma palavra, com uma atenção, uma disponibilidade de tempo que se traduzia talvez num gesto muito simples, mas ao mesmo tempo muito significativo num atendimento de emergência: ele recebia num minúsculo gabinete e fechava a porta. Isso dava privacidade, dava a possibilidade de uma certa relação pessoal entre o paciente, que necessitava do médico, e o médico. Algo que nem sempre é possível acontecer nesses momentos de atendimento hospitalar. Eu não lembro de o Paulo ter recebido alguém - não estou falando de mim, estou falando das pessoas que ali chegavam - sem que fosse sempre com esta atenção: ele manda entrar e fecha a porta. Cria-se, portanto, uma certa empatia, uma certa confiança e parece-me, sobretudo, o respeito do médico pelo cidadão que ali está e, obviamente, a confiança do cidadão em relação ao médico.

Aos longo desses anos, vi em Paulo de Argollo um profissional de alta qualificação, especializando-se num determinado ramo da Medicina, buscando fazer a sua formação, inclusive fora do Brasil, buscando sempre aprimorar-se e acompanhar o avanço nesse campo, que é célere, sobretudo depois de dispormos de tecnologia de ponta, como hoje dispomos no mundo, e do mundo chegando a Porto Alegre.

Quero lembrar, também, o Paulo de Argollo, Líder Sindical. Talvez dentro dessa perspectiva caiba um comentário: muitas vezes me perguntaram - e há poucos dias o Dr. Paulo esteve aqui, como Líder Sindical, na passagem do Dia do Médico - e perguntaram porque este Vereador, ou a Bancada do PSDB, faria uma homenagem ao Dr. Paulo, quando ele, às vezes, na condição de Líder Sindical, tem de criticar fortemente o Governo Federal. Sempre tenho respondido que aí é que está a diferença; é o que nós tucanos, em nível de administração pública, entendemos o que seja democracia. Nós não esperamos de um líder sindical senão o cumprimento da sua função de líder sindical, e nessa função, certamente cabe primeiro a crítica, porque a representação de uma categoria sempre significa batalhar e lutar pela melhoria dessa categoria. No caso da categoria médica, mais do que batalhar e lutar pela melhoria do trabalho dessa categoria, mas também lutar pela melhoria do próprio atendimento, portanto, das condições que sejam dadas ao cidadão, àquele sujeito, àquele indivíduo, àquela pessoa que, anonimamente, tem de chegar até um hospital, até um gabinete médico, e que obviamente não vai fazer turismo, mas vai lá porque tem necessidade.

Para nós, quando, de uma liderança sindical, vem a crítica, não se trata de falar em oposição, em distanciamento ou de rompimento; pelo contrário, trata-se de falar em respeito e, sobretudo, da possibilidade de que essa crítica possa nos ajudar em papéis sociais, em papéis públicos, a corrigir eventuais equívocos ou a melhorar as funções que estamos desemprenhando. Isso vale para mim, enquanto Vereador Líder da Bancada, vale para o Ver. Cláudio Sebenelo, que além de Vereador é também médico e colega do Dr. Paulo de Argollo, vale para o Ministro da Saúde, vale para o Presidente da República, como deveria valer também para um Prefeito Municipal e para um Governador de Estado.

Essa nossa tentativa de construir, gradualmente, uma democracia neste País e admitir a divergência sem quebrar as relações, sem quebrar, sobretudo, no nosso caso particular, o respeito, o carinho, a amizade desses longos anos e essa possibilidade de, em determinados momentos, esses caminhos se juntarem e, sobretudo, somarem-se em nome deste País, em nome deste Estado, em nome desta Cidade. Por tudo isso, ao Líder Sindical que construiu, gradualmente, a sua luta desde associações e sindicatos locais, até entidades de nível nacional; ao profissional que tem-se esmerado, inclusive, na formação de seus próprios filhos, procurando encaminhá-los pelo mesmo caminho que ele próprio vem trilhando, na Medicina, sobretudo, na Medicina social. E muito particularmente ao amigo Paulo de Argollo, do qual me orgulho de guardar essa amizade, depois de tantos e tantos anos, em meu nome pessoal, em nome da Bancada do PSDB, que depois terá também como orador o Médico e Vereador, Cláudio Sebenelo, e em nome desta Casa e dos Partidos que confiaram a mim esse discurso, especialmente os companheiros do PT, do PDT, do PTB, do PSB e do PFL, nosso profundo agradecimento, também, em nome da Cidade de Porto Alegre, por tudo aquilo que tem sido feito por ti e através de ti. Sorte que tu és um Cidadão de Porto Alegre por natureza; agora, mais do que isso: és um Cidadão Emérito de Porto Alegre, por destaque muito especial.

Muito obrigado, espero que essa homenagem te leve com mais força a continuar nessa luta, a continuar nesse trabalho que vens desempenhando ao longo dos anos. Parabéns. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará em nome da Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Que propósitos tem a vida de um homem quando envereda pelos caminhos da ciência, ou da arte, ou do serviço? Podem coisas tão distintas e, aparentemente, tão distantes, como a lógica racionalísta, ainda que edificadora, a busca do ideal estético e o devotamento ao altruísmo fazer parte de um mesmo projeto existencial, com sucesso? A maioria das pessoas certamente diriam que não, a maioria das pessoas se desgastariam na análise das dificuldades e esse desperdício de tempo e energia lhes impossibilitaria o pleno viver.

Felizmente, há um grupo de pessoas, homens, mulheres especiais que pensam e agem de um outro modo. Há pessoas que se jogam na grande aventura da vida com tal empenho e energia que são capazes de combinar, harmônica e eficazmente, todos os talentos que recebem de Deus sem ignorar as dificuldades, mas fazendo com que elas se situem à margem do caminho e sirvam mais como emulação e desafio do que como obstáculo ao alcance dos ideais pretendidos. Entre essas pessoas, iluminado e singular, esta Casa hoje distingue com o Título Honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre o Dr. Paulo de Argollo Mendes, numa iniciativa iluminada do ilustre Ver. Antonio Hohlfeldt, a quem saúdo e cumprimento.

E gostaria de cumprimentar, também, o Ver. Antonio Hohlfeldt pela sua ética. Este Projeto foi aprovado por unanimidade desta Casa no dia 11 de setembro e o Ver. Antonio Hohlfeldt bem poderia ter feito esta Sessão antes das eleições para Vereador. Não o fez, pela sua ética. Por isso, os meus efusivos cumprimentos.

Que os méritos profissionais de Paulo de Argollo Mendes são indiscutíveis, todos sabem. Mas, o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre é reservado àqueles que se distinguem, não apenas por sua excelência profissional, mas, especialmente, aos que transbordam de si em favor da cidade em que nasceram, amando-a com todas as forças de seu coração, e servindo-a de modo inexcedível.

Paulo de Argollo Mendes, sim, é médico competente, obstinado no exercício de sua profissão, em caráter de verdadeiro sacerdócio, no sentido mais amplo da palavra, ou seja, de uma atividade sagrada.

Paulo de Argollo Mendes é Líder Classista incontestado e administrador de elevada atualização. É, ao mesmo tempo, o exemplo sem jaça do cidadão perfeitamente integrado à comunidade em que vive.

Não se contenta ele com o exercício pessoal e competente de sua profissão. Quer mais. Quer e trabalha para que os médicos e a Medicina sejam respeitados e valorizados. Quer e trabalha para que a comunidade seja a grande beneficiária de todo esse esforço conjunto.

Não foi por menos que foi conduzido à Presidência do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul e a Confederação Médica Brasileira. Em meio a toda essa azáfama profissional, mantém intacta a sua sensibilidade para as artes, manifestação clara da enorme abrangência de sua personalidade e do alcance de sua inteligência. Por essas razões todas, Senhor Presidente, em nome da Bancada do Partido Progressista Brasileiro que me honro de integrar, na companhia digna dos Vereadores João Antônio Dib e Pedro Américo Leal, quero então cumprimentar o Dr. Paulo de Argollo Mendes que se torna agora o mais novo integrante desta elite representada pelos Cidadãos Eméritos de Porto Alegre.

Relembro aqui as palavras de Gandhi, em “Cartas ao Ashram”, ao afirmar que uma vida de sacrifício é o cume supremo da arte, pois é cheia de alegria verdadeira. Relembro também a afirmação de Erasmo, em Adágios: “Não merece o doce quem não conhece o amargo.” Ao longo de sua carreira, certamente, Paulo de Argollo Mendes conheceu tanto o sacrifício pessoal e profissional como o sabor amargo das contrariedades e talvez da incompreensão. De tudo, entretanto, o que importa é o resultado final alcançado e que, hoje, obtém aqui nesta Câmara de Vereadores uma de suas expressões maiores.

Parabéns, Paulo de Argollo Mendes, pelo Título que agora recebe de Cidadão Emérito de Porto Alegre, e que o Senhor Nosso Deus o abençoe lhe dê longa vida, e o conserve como foco nas causas que até aqui abraçou. Parabéns. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): A Mesa tem a honra de enunciar a presença de personalidades que compõem a extensão da Mesa, neste ato. Presenças muito honrosas da Dr.ª Maria Rita de Assis Brasil, Vice-Presidenta do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul; Dr. Edmundo Lima Zagoury, Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Fêmina; Dr. Paulo Roberto Giesta, Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Conceição; Dr. João Júlio Hogetop, Vice-Presidente da Associação dos Médicos do Hospital Cristo Redentor; Dr. Bruno Carlo Palombini, Presidente da Associação dos Médicos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia; Dr. Francisco Antônio Paz, Diretor-Superintendente do Grupo Hospitalar Conceição; Dr. Bruno Costa; Dr. Roberto Benevetti; Sr. Renato de Boer, Delegado de Pelotas; Dr. Osvaldo Carlos dos Santos, representante do UNICRED Porto Alegre e Dr. Sérgio Arnoud, Presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul; das Sr.as Elvira de Argollo Mendes, Lenita de Argollo Mendes e Ivone Richter, respectivamente, mãe e irmãs do homenageado e do Sr. Alexandre de Argolo, tio do homenageado.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra e falará pela Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu quero pedir licença aos presentes para registrar novamente a presença do Dr. Francisco Paz, Diretor-Superintendente do Grupo Hospitalar Conceição, que inicia um trabalho dentro de uma instituição maravilhosa; e do Dr. Bruno Palombini, um dos autores da Carta de Gramado, um libelo contra o tabagismo, que nos faz lembrar, não por ser uma das maiores figuras de uma geração médica - o Dr. Bruno Palombini - mas nos faz lembrar Mário Rigatto, na sua luta. E nesta semana tivemos a oportunidade, talvez um dos momentos mais gloriosos da minha curta passagem por esta Casa, de transformar a travessia Mário Rigatto, aquela ponte que une o Hospital de Clínicas ao Instituto de Cardiologia, por sugestão do Prof. Rubem Rodrigues e criar nesta Casa o Prêmio Mário Rigatto.

Caro Paulo de Argollo, perdido no baú das memórias era o tempo do antigo Menino Deus, onde a tradicional família Argollo, que agora eu reencontro, cujo patriarca Dr. Alexandre Argollo, seu tio, é exemplo de profissional e ser humano permanente.

O tempo passou por nós como uma lufada de vento. Quando me formei, ainda restavam alguns paladares específicos: “bolinho de chuva”, pandorgas ao vento, cadeiras nas calçadas e banhos de chuva, pescarias no Guaíba.

A Medicina, de então, ainda estava muito longe de ser uma ciência próxima da exatidão. Sem máquinas, com aparelhagem engenhosa, mas, paupérrima, a história, o exame físico de um paciente e uma propedêutica inteligente eram, com o Raio-X e alguns dados subsidiários dos laboratórios, as armas mais agudas de que dispúnhamos.

Mas a relação médico paciente não tinha obstáculos. A ética profissional era estimulada por um sentimento fraterno, respeitoso, positivo de intensa ação humanizadora. Se o social, àquela época, desempenhava um papel importante, a grande caridade, virtude teóloga apinhada de humildade, reunia epítetos como bondade, santidade, sacerdócio, idealizações que dispensavam esse exercício de poder natural entre os dois elementos da fração: médico/ paciente.

Hoje a vertigem do crescimento tecnológico, muitas vezes inalcançável, trocou a medicina ectoscópia, dolorida e um certo charme de branco por um novo poder, interpondo novas aparelhagens, impedindo a relação pelo banimento da dor, pela científica certeza dos diagnósticos, pelas evasivas mas menos cruentas formas terapêuticas.

O médico foi arremessado numa sociedade com requisitos socialistas para a sua saúde, mas dentro de um modo de produção capitalista, voltado para o desenvolvimento. Convivemos com antibióticos de quinta e sexta gerações, com corticosteróides, com transplantes, com a fibra ótica, com monitores, com a cibernética, clones, com a Engenharia Genética.

Mas atendemos também, ainda, e muito, na intimidade do tecido social - leia-se favelas - armados apenas dessa tecnologia de cor cinzenta existente somente em massas encefálicas de hominídeos, o cérebro. Nós somos a tecnologia, totalmente desarmada.

Nos adaptamos, de tal forma que não saberíamos viver sem o computador, não saberíamos fazer medicina sem o ultra-som, sem a perfeição imagética das ressonâncias, das tomos, das cineangios.

Nossa expectativa de vida aumentou. A expectativa de vida atesta o grau de desenvolvimento da Medicina. Mas será que a relação com nossos pacientes melhorou? Será que nesta sociedade - do ícone dinheiro - ainda poderemos desenvolver e desconcentrar a renda por uma das vias mais preciosas que é a saúde?

E o médico? Sua compreensão dos porquês profissionais, relacionais, existenciais, são mais evidentes? A estas perguntas, a todas elas, é um não, rotundo!

Pois é, exatamente, aqui que se localiza o sentido maior desta reunião. Esta Cidade, que tantas vezes nos entranha do fastio e do azedume do homem urbano, esta Cidade que não pára para pensar, esta Cidade que nos torna mal-educados, que faz perder o significado do verbete “urbanidade”, no sentido de educação, finesse, cultura, para se assomar de violência, de mau gosto, de lutas fratricidas não-declaradas. Esta Cidade, que nunca pára para pensar.

Hoje, esta Cidade parou. Parou para pensar no que representa para ela o Sindicato Médico, uma Associação de Médicos de um Hospital-AMEHC, do Hospital Conceição que tu, Paulo, construístes. Parou para pensar no médico que plasmou um trabalho longo e diuturno, nos corredores imensos dos hospitais, na solidão claustrofóbica de um consultório branco. No médico que defende os médicos, mas defende mais, muito mais intensamente e, principalmente, a humanização do sistema, a humanização das relações, das instituições com os seus clientes, com o ser humano comum. Humano no mais amplo da palavra, no mais recôndito da significação do termo. Ser humano com ou sem dinheiro, de qualquer cor, de qualquer cultura, de qualquer nacionalidade, de qualquer ideologia, de qualquer religião.

O ser humano dos palácios ou das favelas, das ágoras ou dos claustros, ensimesmados ou comunicativos, todos, literalmente todos, nesta babel que um planeta apequenado se transforma, caldo de cultura ou de uma sociedade mais justa, da metamorfose do “homo faber” em “homo lúdicus”, de negócio - a negação do ócio - em ócio propriamente dito ou em mais um sinistro cavaleiro do apocalipse, na hecatombe universal da distribuição e do “day after” agonizante. Em plena sociedade da pressa, em plena sociedade da leitura da dinâmica, do golpe da leitura dinâmica, da mistificação da leitura dinâmica, porque ler significa pensar e pensar significa tempo e temos que fazer isso com muito vagar.

Na sociedade da velocidade, em todos os sentidos, do automobilístico, onde subimos nos 180 cavalos de uma vez ou da insuportável ocupação de espaços, na plena megalópole canibalizante; paramos para pensar.

Hoje, paramos todos para pensar e pensando crescemos. Volta a circular um afeto, o simplório dos reencontros entre aldeães, os sorrisos anti-hipertensivos, as recordações. Tudo sem esquecer, Paulo, que há uma imensa tarefa a cumprir de resgate, de redenção, nem que seja heróica tarefa, nas mãos de uma equipe, comandada por este cidadão que, neste momento, está sendo abraçado pelo ar de Porto Alegre. Esse ar como carinho da mulher amada, como barulho dos passos nas calçadas vazias, com o sutil das misteriosas madrugadas, como o zéfiro perfumado de estrelas, nas nossas mágicas noites de verão. Esta mesma urbe que escraviza, pode ser sonho de reencontro em suas esquinas, de ancestrais açorianos com pessoas que, como tu, fazem a cidade, que, como tu, têm uma profunda relação com o cuore da nossa Cidade.

Tudo como se fosse, num amplo boteco, um chope no fim de tarde, e uma conversa amiga, que nunca mais vai terminar. Nunca mais, Paulo! Nunca mais! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Registramos o recebimento de várias correspondências endereçadas à Casa e ao homenageado: um cartão de um colega do Dr. Paulo. O Sr. Chaphick Saadi; do Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães; do Procurador-Geral de Justiça, Dr. Cláudio Barros Silva; do Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, José Erivalder Guimarães de Oliveira; do Presidente da Associação Paulista de Medicina, Dr. José Luiz Gomes do Amaral; do Presidente do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina - CREMERSC, Dr. Edevard J. de Araújo; e do Presidente da AMECO, Dr. Carlos Francisco Praetorius. Todas estas mensagens estão sendo entregues ao Dr. Paulo de Argollo Mendes.

O Ver. Juarez Pinheiro está com a palavra para falar em nome da Bancada do PT.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero saudar o nosso homenageado Dr. Paulo de Argollo Mendes, do qual fui diretor, um dia, e sequer consegui apertar a sua mão.

Quero saudar o proponente desta cerimônia, Ver. Antonio Hohlfeldt, que já falou em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, mas o protocolo está sendo quebrado por mim, e não pelo Presidente ou pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, que já foi um Vereador eleito pela Bancada do Partido dos Trabalhadores, primeiro Vereador eleito pelo PT, e que estava escalado para falar em nome do Partido dos Trabalhadores, e nos honramos muito com isto.

Estou quebrando o protocolo, porque não estava escalado para falar. Estou aqui neste momento porque vim ao Setor Médico da Casa para fazer uma verificação de saúde, porque estava licenciado por problemas de saúde, quando encontrei outro Cidadão de Porto Alegre, médico, Dr. Bruno Costa. Tenho todas as razões para estar aqui, hoje, para também, completando o que já disse o Ver. Antonio Hohlfeldt em nome da nossa Bancada, tecer algumas palavras em homenagem ao Cidadão Emérito de Porto Alegre, Dr. Argollo, que hoje recebe este título, que é mais do que um título honorífico, é um título para a sua vida.

O médico é, hoje, aquele que fica na ponta de um sistema absolutamente injusto. Sobre o médico recaem, hoje, todos os problemas de uma sociedade que não só exclui o cidadão, mas que, na verdade o executa, em alguns casos. Não estou falando isso em nível de país; estou falando em nível de sociedade mundial, de uma sociedade que hoje recorre a períodos que nos relembram a Idade Média. Quem está lá na ponta do sistema e tem de resolver o problema que a sociedade não resolve, é o médico.

Para nós, Vereadores - aqui o Ver. Cláudio Sebenelo, que já participou de tantas atividades e o Ver. Antonio Hohlfeldt muito mais do que nós, porque é mais antigo aqui na Casa - confirmam que é do nosso cotidiano participarmos de solenidades de entrega de títulos de Cidadão Emérito de Porto Alegre, mas todos nós sabemos da grande responsabilidade que é cada um desses títulos que entregamos aqui. Eles não têm nada de continuidade, eles não têm nada de rotina; cada um deles é algo muito especial, porque estamos aqui representando fatias significativas de setores da nossa sociedade, enfim, desta Cidade.

E o trabalho do médico é assim. Nós sabemos que, infelizmente - o senhor, como médico e como Presidente de um Sindicato, sabe disso - alguns médicos hoje precisam atender, em seus consultórios, no seu período regulamentar, que é de quatro horas, às vezes, de dez a vinte pacientes. Sabemos que, às vezes, não reúnem as condições físicas, de saúde, para estar atendendo aqueles pacientes em tão grande número, mas o fazem, porque sabem do papel que o médico tem, hoje, na sociedade.

Então, assim como nós, aqui, a cada semana temos a entrega de um título, e cada um deles é algo especial, nós sabemos disso, e a responsabilidade que é esse poder que a sociedade nos dá de representá-la e a honra que isso significa, eu faço esse paralelo: entre nós, vereadores e o que é para o médico cada paciente que atende, mesmo que tenha que atender, muitas vezes, de dez a quinze pacientes.

Estou aqui por outras razões: porque tive a felicidade de, numa época muito singular na minha vida, junto com outros médicos que aqui estão - o Vereador e o Cidadão de Porto Alegre, Ver. Sebenelo e Dr. Bruno Costa - conhecer por dentro o que é o sistema de saúde, convivendo no Ministério da Saúde, convivendo com a maior instituição hospitalar da América Latina, que é o Grupo Hospitalar Conceição, convivendo com aqueles profissionais. Isso foi uma aventura na minha vida.

Tive, naquele momento, Ver. Cláudio Sebenelo e Dr. Bruno Costa, a felicidade de dar a minha contribuição, modesta - porque não sou da área médica, mas fui Diretor Administrativo - e significativa, no caso dos dois já nominados, de ter conseguido, por exemplo, o FIDEPS. O Dr. Argollo, Presidente do Sindicato, sabe o que significa o FIDEPS, hoje, para uma entidade de saúde, como é o caso, aquele, em que o nosso homenageado trabalha, que tem a sua origem funcional, porque isso significa 50% acima nas AIH, nos atendimentos ambulatoriais, em todos os exames, e essa foi uma aventura importante, foi mais importante do que ter sido Vereador em Porto Alegre, porque sei o que isso significa.

Estou aqui também porque ajudei, junto com a Presidenta do Sindicato, que hoje se encontra aqui, a Marlene, e os trabalhadores na área da saúde a reconstruir o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

Finalmente, estou aqui por duas razões. Já lhe disse que nunca apertei a sua mão, mas estou aqui porque conheço a sua trajetória. Estou aqui por que sei que é de homens como o senhor que a nossa sociedade precisa, hoje e sempre. Porque a lógica que hoje impera é a lógica do caminho único; a lógica de que não adianta nos unirmos; a lógica de que as coisas estão dadas, a lógica de que os países pobres têm de se submeter aos interesses dos países que hoje tem o controle da ordem internacional. E aquelas pessoas que ousam representar os seus colegas, com prejuízos de ordem pessoal, familiar, profissional, de saúde às vezes, pela carga que recebem, quando são homenageadas, como os são neste momento, merecem de nós todo o respeito. Dr. Argollo, o senhor é uma dessas pessoas especiais - eu sei disso sem nunca ter apertado a sua mão: conseguiu fazer com que ao Sindicato retornassem centenas, talvez milhares de colegas que dele haviam-se afastado porque não concordavam com linha que estava sendo imposta; no momento em que a filosofia leva ao individualismo e não à idéia do coletivo, da união. O senhor fez o caminho ao contrário, fortaleceu o Sindicato médico.

Portanto, hoje, esta é uma homenagem à sua trajetória, mas também aos seus colegas médicos, paramédicos, pessoas ligadas à saúde, pessoas que hoje cumprem o papel mais difícil, porque nós sabemos que, em Porto Alegre, onde vivemos, temos hospitais públicos que recebem, sim, recursos para uma folha de pagamento, que recebem o valor das AIHs, mas V.Ex.ª tem, também, a obrigação de representar os seus colegas que estão lá no interior do Estado, onde, no décimo dia do mês, já não há mais AIHs nos hospitais, e os hospitais não têm mais como atender; onde os médicos têm de atender um paciente por um valor de dois reais, três reais a consulta dada. E os médicos atendem! V.Ex.ª tem esta responsabilidade: de atender, de saber dos anseios dos médicos, que são, muitas vezes, acusados de irresponsáveis, recebendo, inclusive, algumas ações por falta de atendimento, não sabendo, quem os aciona, que eles estão recebendo dois reais, três reais por uma consulta médica e que, às vezes, estão deixando de fazer uma cirurgia eletiva, que lhes renderia recursos significativos e estão ali atendendo um caso de emergência.

Portanto, homenagear uma pessoa como o Dr. Argollo, que consegue fazer com que o coletivo paire sobre o individual, que consegue fortalecer o Sindicato Médico, que consegue fazer com que esse Sindicato seja referência, que consegue realizar as lutas que são importantes para a categoria, é também, Dr. Argollo, permita-me, homenagear a sua pessoa, sobre quem todos já falaram com maior brilho, porque o conhecem mais do que eu, mas também esta homenagem é uma homenagem coletiva a todos os seus colegas, que se dispõem a abrir mão dos seus interesses de ordem pessoal para lutar em favor de uma categoria e, acima de tudo, em favor de todos os brasileiros, principalmente daqueles mais pobres. Parabéns! Muito obrigado. (Palmas.)

(Não previsto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Procederemos à entrega do Diploma do Título Honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Dr. Paulo de Argollo Mendes, que lhe foi concedido por decisão unânime desta Casa, por proposição do Ver. Antonio Hohlfeldt.

Convidamos o representante do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Ricardo Gothe, para fazermos a entrega oficial da Medalha e do Diploma de Cidadão Emérito ao Dr. Paulo de Argollo Mendes.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha ao homenageado.) (Palmas.)

 

O homenageado Dr. Paulo de Argollo Mendes está com a palavra.

 

O SR. PAULO DE ARGOLLO MENDES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, componentes da Mesa, autoridades presentes ou representadas, Ver. Antonio Hohlfeldt, colegas e amigos. Eu não vou citar nomes, em especial, porque me prometi chegar sem soluços ao final desta locução.

O fato de não ser merecedor, em nada diminui a grande alegria de estar recebendo o Título de Cidadão Emérito de uma cidade que amo muito. Jorge Luís Borges diz: “Só os que amamos podem realmente nos magoar”. Eu digo que só os que amamos podem realmente nos tocar e nos fazer felizes. Esta Cidade tem, para mim, esse dom. Tenho percorrido seus caminhos, convivido com seus sabiás, com os jacarandás, com o seu pôr-do-sol, com a gélida lâmina do minuano. Guardo comigo o som ritmado dos cascos dos cavalos sobre os paralelepípedos nas madrugadas da Rua Gonçalves Dias, onde nasci, e a leveza violácea da floração dos cinamomos com o seu aroma suave, que embala as calçadas quando a noite se aproxima. Nutro por essa Cidade o amor sereno dos que envelhecem juntos. Tenho sido, nesta Cidade, um lutador pelas causas da saúde, tenho lutado por melhores condições de trabalho, pela dignidade profissional da categoria, pela excelência na relação médico-paciente.

Essas questões remetem, diretamente, a um fato decisivo nas nossas vidas - a qualidade da saúde da nossa população, a certeza do bom atendimento, a confiança de cada paciente em seu próprio médico. Esse é o norte que vem pautando nossa atuação como Diretor Clínico do Hospital N. Sr.ª da Conceição, cujo corpo clínico me deu também a honra de representá-lo como Presidente da Associação dos Médicos, como Conselheiro da Associação Médica do Rio Grande do Sul e como Conselheiro do Conselho Regional de Medicina, assim como membro do Conselho de Administração da UNIMED - Porto Alegre. Por fim, à frente do nosso Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, representando quase dezoito mil médicos gaúchos e da Confederação Médica Brasileira, que reúne os vinte e seis Sindicatos Médicos do País.

 Uma trajetória que tem tido momentos de grandes realizações e outros de profunda reflexão. Cito nosso trabalho à frente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul como exemplo de empenho, com resultados palpáveis para os médicos em termos de qualidade no trabalho e valorização profissional. Hoje, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul é o único no País com o certificado internacional de qualidade ISO 9002, aliás, o único Sindicato Classista com esse reconhecimento internacional, de todas as categorias. Esse é o resultado de um gerenciamento empresarial que reverteu o processo de esvaziamento da entidade e triplicou em dois anos o número de associados. Muitos funcionários do Sindicato estão aqui e faço um parêntese para dizer que eles têm realizado, realmente, um trabalho digno de toda a admiração.

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul é hoje a entidade médica que mais cresce no País. Inovamos no panorama sindical brasileiro ao utilizarmos ferramentas gerenciais estratégicas similares às organizações empresariais. Vemos o nosso associado como um cliente exigente, que ser cativado com serviço de padrão internacional de qualidade, além de uma entidade forte e atuante na defesa de seus interesses. Orgulhamo-nos desse trabalho que revoluciona a tradicional visão de Sindicato.

Por outro lado, temos também obrigação de fazer desse momento um alerta e um momento de conscientização quanto à realidade vivenciada pelos médicos gaúchos. Vivemos hoje um paradoxo entre a excelente formação dos médicos do Rio Grande do Sul e a qualidade da assistência prestada aqui, no Estado. Se de um lado a nossa medicina está entre as melhores do mundo, pois construímos um processo permanente de atualização de excelente escolas, de publicação de revistas científicas, de participação em congressos, temos, de outro lado, uma infra-estrutura ineficiente que leva os médicos a trabalharem, às vezes, em condições degradantes. O médico que estuda e se aprimora não se despe do seu conhecimento ao sair do seu consultório privado para atender no SUS. Esse conhecimento está à disposição do Sistema Único de Saúde, então por que a assistência médica vai tão mal? É que esse paradoxo é o real panorama da situação médica do Rio Grande do Sul, corpo médico altamente qualificado e estrutura de atendimento insuficiente e sucateada, resultando em fechamento de leitos e população sem atendimento adequado.

Por todo o País, entre 1992 e 1999 foram fechados sessenta mil leitos, uma redução de 27%. Os médicos que atendiam os pacientes nos quartos de enfermarias passaram a atender nas salas de emergências, em macas nos corredores, e até mesmo no chão dos hospitais. Não faz muito, a TV mostrou um parto sendo feito numa pia no Rio de Janeiro. Já não havia macas, não havia mais onde colocar os pacientes. Os médicos têm que se sobrepor a isso. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul realiza denúncias sistemáticas desta situação e age no sentido de defender a dignidade do ato médico, porque a dignidade do ato médico, que reverte em benefício da comunidade, é o foco, é a razão de ser de todo o nosso trabalho. Temos perseverado neste esforço e acho que estamos conseguindo avançar.

Concluo, destinando esta distinção, a de Cidadão Emérito desta grande Cidade, ao meu pai, o melhor médico que conheci, aos meus filhos que, hoje, cursam Medicina e são melhores do que sou, e a todos os colegas deste Estado que, com a sua dedicação, com competência, vêm minimizando as adversidades para oferecer, quando possível, a cura, mas sempre, e permanentemente, o consolo e o carinho aos que padecem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Antes de darmos por finalizada oficialmente esta Sessão Solene, em nome da Mesa e em meu nome, quero registrar, com profunda emoção, o fato de ter presidido esta Sessão Solene. O Dr. Paulo de Argollo Mendes, além da sua condição profissional de médico, é um excelente Dirigente Sindical. Eu sei bem quais as atribuições que lhe são conferidas. E o Dr. Paulo de Argollo Mendes, independentemente da sua condição de profissional competente, independentemente da sua condição de dirigente sindical é um profundo humanista. E nós, hoje, nesta sociedade tão convulsa, nós precisamos exatamente dessas pessoas. E os médicos, de modo geral, estão tendo esse direcionamento. É muito importante que o Sindicato, presidido por um médico humano, tenha essa direção, este exemplo, e é isso que deve ficar registrado com muita proficiência nesta Sessão Solene.

A Cidade de Porto Alegre se orgulha de ter entre os seus Cidadãos Eméritos o nosso ilustre conterrâneo Dr. Paulo de Argollo Mendes. (Palmas.)

Convido a todos para agora, em pé, ouvirmos o Hino Rio-grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo, mais uma vez a presença de todos. Damos por encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h43min.)

 

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